Meu nome é
Giovana Antonieta Tonolli, resido na cidade de Caxias do Sul, sou estudante do
7° semestre do curso de Pedagogia, na Universidade de Caxias do Sul (UCS). Este
foi meu primeiro semestre como bolsista do programa Residência Pedagógica, na
Escola Municipal de Ensino Fundamental Caldas Júnior, também situada em Caxias
do Sul. Escrevo no texto a seguir, minhas reflexões e contribuições pessoais e
acadêmicas desse semestre atuando no subprojeto de Pedagogia.
O presente
projeto do módulo I do programa Residência Pedagógica foi realizado pensando
numa turma de Educação Infantil, esta fase da educação tão importante na vida
do ser humano, e que exige muito do educador dessa faixa etária, assim como nos
lembra Barbosa (2009), existem especificidades no trabalho do professor de
Educação Infantil que envolvem a necessidade de sensibilidade para as
linguagens da criança para o estímulo da autonomia, para mediar a construção de
conhecimentos científicos, artísticos e, também para se colocar no lugar do
outro. “A observação das crianças significa notar o sentimento das suas ações
tendo em vista planejar o cotidiano com elas” (BARBOSA, 2009, p.102). Ser
educador da infância exige sensibilidade, comprometimento e uma grande
responsabilidade. A turma à qual fui designada foi o Pré II B da Escola
Municipal de Ensino Fundamental Caldas Júnior em Caxias do Sul. O projeto
ocorreu durante o final do segundo semestre de 2020 e início do primeiro
semestre de 2021.
A escola recebeu a proposta do programa que
previa sua atuação na área da Educação Infantil em sua instituição com muito
apreço e interesse por parte de sua diretora e corpo docente. O tempo de
observação que teria início nos primeiros dias do programa, e que serviriam
para analisar a realidade na qual a turma se encontrava, as culturas e
interesses das crianças, infelizmente não puderam acontecer, em virtude da
pandemia que o vírus Covid-19 ocasionou. As medidas foram necessárias para
evitar maior contágio da população como o fechamento temporário das escolas,
incluindo a que está recebendo o Residência Pedagógica. O levantamento de dados
da escola ocorreu através da análise dos documentos e de um questionário
anteriormente formulado e que foi aplicado e respondido por telefone pela
diretora, tornando possível um melhor estudo e compreensão das necessidades da
escola.
As
práticas pedagógicas que seriam realizadas de forma presencial na escola também
não ocorreram da forma esperada. Dentro do planejamento destas práticas eram
necessários planos de aula que estão presentes no projeto, estes foram
desenvolvidos como o tema gerador “brincar e brincadeira”, e como ele é
importante no desenvolvimento da criança para uma aprendizagem significativa,
pensados de forma que atendessem a análise da realidade observada na escola e
que as finalidades fossem alcançadas e a mediação tornasse tais ações possíveis.
Pontuamos
diversos motivos que justificam o tema gerador. Pensando na importância da
brincadeira quando pensamos em criança. Durante o tempo que a criança brinca
ocorre seu desenvolvimento. Com o brincar ela aprende, descobre o mundo,
possibilidades, organiza sua autonomia de ação, desenvolve emoções e relações
sociais. O ato de brincar trabalha também a aprendizagem da linguagem e as
habilidades motoras.
Para
Winnicott a criança ao brincar está mais próxima de um crescimento sadio, o
autor faz essa colocação ao citar que:
Brincar facilita o crescimento e, em consequência,
promove a saúde. O não-brincar em uma criança pode significar que ela esteja
com algum problema, o que pode prejudicar seu desenvolvimento. O mesmo pode se
dizer de adultos quando não brincam ou quando proíbem ou inibem a brincadeira
nas crianças, privando-as de momentos que são importantes em suas vidas, e nas
dos adultos também. (WINNICOTT, 1982, p. 176).
Mas,
devido ao momento atual de isolamento, o brincar no coletivo em especial na
escola não vem ocorrendo, e é necessário pensar e planejar novas formas desse
acontecer no seio familiar, que é o local onde as crianças estão exclusivamente
neste momento. Pensando e usando o avanço tecnológico a favor de todos, a
alternativa poderia ser a mediação via uso de plataformas digitais. Esse que
até antes da pandemia estava sendo visto como algo que vinha afastando as
crianças das brincadeiras, principalmente as de rua. Já que as crianças não
ficavam mais nelas a se encontrar e brincar após as aulas por causa de vários
fatores, principalmente a violência. Todas as atividades dos planos tiveram
como objetivo proporcionar maior interação das crianças e família com as aulas,
tornando esta mais significativa. Por
isso, afirma Veiga (2007, p.15), “que a luta da escola é para a
descentralização em busca de sua autonomia e qualidade (...) sendo uma
oportunidade ímpar de a comunidade definir em conjunto a escola que deseja
construir”
Ao longo
do primeiro módulo do programa a cada aula, foram sendo desenvolvidas as
diferentes partes que integram o projeto, tornando-o um ao final do semestre.
Cada momento ocorreu um diferente e grande aprendizado por parte de todos
bolsistas, através de um elaborado planejamento desenvolvido pela orientadora.
Todos os planos de aula foram desenvolvidos e aplicados de forma remota, o que
não diminuiu o empenho e dedicação na vivência. Com isso, nota-se a necessidade
de que a metodologia integre os elementos que fazem parte da mediação, uma das
três dimensões do plano (realidade, finalidades e mediação). Juntamente com
recursos, conteúdos, tempo, etc., a metodologia funciona como meio. Então o
termo mediação, para ajudar na realização das finalidades, resolvendo assim
necessidades vistas na análise da realidade, esperando contribuir na construção
do conhecimento das crianças da escola por meio da brincadeira. Deste modo como
nas palavras de (BRANDÃO, 1981, p.10-11):
Um dos pressupostos do método é a ideia de que
ninguém educa ninguém e ninguém se educa sozinho. A educação, que deve ser um
ato coletivo, solidário —um ato de amor, dá pra pensar sem susto —, não pode
ser imposta. Porque educar é uma tarefa de trocas entre pessoas e, se não
pode ser nunca feita por um sujeito isolado (até a autoeducação é um diálogo
à distância), não pode ser também o resultado do despejo de quem supõe que
possui todo o saber, sobre aquele que, do outro lado, foi obrigado a pensar
que não possui nenhum. “Não há educadores puros”, pensou Paulo Freire. “Nem educandos.”
De um lado e do outro do trabalho em que se ensina-e-aprende, há sempre
educadores-educandos e educandos- educadores. De lado a lado se ensina. De
lado a lado se aprende. (BRANDÃO, 1981, p.10-11).
Daí surge
a necessidade do trabalho docente através de projetos, que se mostra um método
extremamente positivo no qual possibilita a ligação do projeto com diferentes
áreas do conhecimento, ocorrendo de forma contextualizada a aprendizagem
infantil. O educando com as relações que o cercam, assimila a natureza a sua
forma. Entretanto, conforme ele cresce e vai ao encontro a fenômenos, situações
e objetos novos, ocorrem importantes mudanças na sua visão do mundo. Tal
processo de desconstruir velhos conceitos e construir novos, refazendo as
ideias, mudando o pensamento, é, de fato, o conhecimento, é o exercício de
aprender.
Na etapa
da Educação Infantil, a avaliação tem um olhar universal da criança, é buscar,
observando os avanços e os obstáculos a serem superados de cada criança, dando
relevância ao seu conhecimento prévio, é uma ação contínua e diária que se
volta no planejamento do educador e soma a rotina escolar. Vale ressaltar que
nessa etapa do conhecimento é elaborado em movimentos de idas e vindas cabendo
ao educador mediar e promover as intervenções pedagógicas necessárias para que
as habilidades e competências das crianças sejam construídas e desenvolvidas.
Tais
pressupostos referentes à avaliação são apresentados pelas Diretrizes
Curriculares Nacionais para Educação Infantil (BRASIL, 2009, p. 16):
A avaliação é um instrumento
de reflexão sobre a prática pedagógica na busca de melhores caminhos para
orientar as aprendizagens das crianças. Ela deve incidir sobre todo o
contexto de aprendizagem: as atividades propostas e o modo como foram
realizadas, as instruções e os apoios oferecidos às crianças individualmente
e ao coletivo de crianças, os agrupamentos que as crianças formaram, o
material oferecido e o espaço e o tempo garantidos para a realização das
atividades.
Após,
seguir essas considerações, a avaliação ocorreu de forma, a fim de observar,
registrar, conduzir e participar no processo de construção do conhecimento da
criança, olhando as avaliações das crianças como um grupo e individualmente.
Por fim, o
desenvolvimento do projeto se deu melhor que o esperado, dadas as
circunstâncias atuais, provando que a construção do conhecimento pode ocorrer
de diferentes formas e locais. Durante o período do primeiro módulo, muito do
que foi visto na graduação e nas disciplinas do semestre se aplicou, mesmo que
não totalmente nas práticas pedagógicas no campo em que iríamos realizar a
intervenção, mas o que pode ser desenvolvido e executado do projeto aconteceram
de forma excepcional.
Sendo de
grande merecimento para o desenvolvimento e aperfeiçoamento das práticas
docentes da bolsista, inserindo-a numa realidade acadêmica nunca antes vista,
que lhe propiciou reflexões que não ainda haviam sido apresentadas, da mesma
forma que as práticas que foram realizadas, sendo cruciais para seu caminho
como educadora. O sentimento de trabalho inacabado por não ter sido exatamente
como se esperava, feito e aprendido como em teoria se imaginava, não acabou
sendo maior que o sentimento de satisfação no presente aprendizado.
Mesmo
longe da sala, a turma de educação infantil do Pré II B permaneceu unida,
participativa e cooperativa, mesmo acerca de algo tão novo como foram as aulas
em forma síncrona, algo que foi fundamental para o andamento e desdobramentos
que fizeram desde semestre produtivo, com a ajuda da orientadora foi possível
realizar o presente módulo, podendo-se afirmar que todos projetos trouxeram
inovações, excelentes materiais, e diferentes conteúdos que ajudaram os demais
sendo eles ou não do mesmo tema, tornando essa experiência não exclusiva de
cada uma, mas coletiva.
O primeiro
módulo do programa Residência Pedagógica foi, então, uma experiência única e
principalmente de aprendizado e desafios, chegando ao fim e provando que com
esforço e dedicação de todas as partes o trabalho foi possível, assim como o
objetivo de contato e inserção na educação infantil em uma escola, que
aconteceu, e de que tudo que foi aprendido será usado e levado para os demais
módulos do programa.
REFERÊNCIAS
BARBOSA,
Maria Carmen Silveira. Por Amor e Por
Força: Rotinas na Educação Infantil. Porto Alegre: Artmed, 2009.
Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Educação é a
base. Brasília, MEC/CONSED/UNDIME,2017.
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é Método Paulo Freire. 18ª ed. São Paulo, Brasiliense, 1981.
BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Câmara de
Educação Básica. Revisão das Diretrizes
Curriculares Nacionais para Educação Infantil. Parecer nº 20/2009. Diário
Oficial da União, Brasília, DF, 09 de dezembro de 2009, Seção 1, p. 14.
VEIGA,
Ilma. Passos Alencastro (Org.). Quem
sabe faz a hora de construir o projeto político-pedagógico.
Campinas: Papirus, 2007.
WINNICOTT
D. O brincar e a realidade. Imago,
1975. A criança e o seu mundo. 6ª
edição, editora JC, Rio de Janeiro 1982.