terça-feira, 30 de março de 2021

 

Meu nome é Giovana Antonieta Tonolli, resido na cidade de Caxias do Sul, sou estudante do 7° semestre do curso de Pedagogia, na Universidade de Caxias do Sul (UCS). Este foi meu primeiro semestre como bolsista do programa Residência Pedagógica, na Escola Municipal de Ensino Fundamental Caldas Júnior, também situada em Caxias do Sul. Escrevo no texto a seguir, minhas reflexões e contribuições pessoais e acadêmicas desse semestre atuando no subprojeto de Pedagogia.

O presente projeto do módulo I do programa Residência Pedagógica foi realizado pensando numa turma de Educação Infantil, esta fase da educação tão importante na vida do ser humano, e que exige muito do educador dessa faixa etária, assim como nos lembra Barbosa (2009), existem especificidades no trabalho do professor de Educação Infantil que envolvem a necessidade de sensibilidade para as linguagens da criança para o estímulo da autonomia, para mediar a construção de conhecimentos científicos, artísticos e, também para se colocar no lugar do outro. “A observação das crianças significa notar o sentimento das suas ações tendo em vista planejar o cotidiano com elas” (BARBOSA, 2009, p.102). Ser educador da infância exige sensibilidade, comprometimento e uma grande responsabilidade. A turma à qual fui designada foi o Pré II B da Escola Municipal de Ensino Fundamental Caldas Júnior em Caxias do Sul. O projeto ocorreu durante o final do segundo semestre de 2020 e início do primeiro semestre de 2021.

 A escola recebeu a proposta do programa que previa sua atuação na área da Educação Infantil em sua instituição com muito apreço e interesse por parte de sua diretora e corpo docente. O tempo de observação que teria início nos primeiros dias do programa, e que serviriam para analisar a realidade na qual a turma se encontrava, as culturas e interesses das crianças, infelizmente não puderam acontecer, em virtude da pandemia que o vírus Covid-19 ocasionou. As medidas foram necessárias para evitar maior contágio da população como o fechamento temporário das escolas, incluindo a que está recebendo o Residência Pedagógica. O levantamento de dados da escola ocorreu através da análise dos documentos e de um questionário anteriormente formulado e que foi aplicado e respondido por telefone pela diretora, tornando possível um melhor estudo e compreensão das necessidades da escola.

As práticas pedagógicas que seriam realizadas de forma presencial na escola também não ocorreram da forma esperada. Dentro do planejamento destas práticas eram necessários planos de aula que estão presentes no projeto, estes foram desenvolvidos como o tema gerador “brincar e brincadeira”, e como ele é importante no desenvolvimento da criança para uma aprendizagem significativa, pensados de forma que atendessem a análise da realidade observada na escola e que as finalidades fossem alcançadas e a mediação tornasse tais ações possíveis.

Pontuamos diversos motivos que justificam o tema gerador. Pensando na importância da brincadeira quando pensamos em criança. Durante o tempo que a criança brinca ocorre seu desenvolvimento. Com o brincar ela aprende, descobre o mundo, possibilidades, organiza sua autonomia de ação, desenvolve emoções e relações sociais. O ato de brincar trabalha também a aprendizagem da linguagem e as habilidades motoras.

Para Winnicott a criança ao brincar está mais próxima de um crescimento sadio, o autor faz essa colocação ao citar que:

                                     Brincar facilita o crescimento e, em consequência, promove a saúde. O não-brincar em uma criança pode significar que ela esteja com algum problema, o que pode prejudicar seu desenvolvimento. O mesmo pode se dizer de adultos quando não brincam ou quando proíbem ou inibem a brincadeira nas crianças, privando-as de momentos que são importantes em suas vidas, e nas dos adultos também. (WINNICOTT, 1982, p. 176). 

Mas, devido ao momento atual de isolamento, o brincar no coletivo em especial na escola não vem ocorrendo, e é necessário pensar e planejar novas formas desse acontecer no seio familiar, que é o local onde as crianças estão exclusivamente neste momento. Pensando e usando o avanço tecnológico a favor de todos, a alternativa poderia ser a mediação via uso de plataformas digitais. Esse que até antes da pandemia estava sendo visto como algo que vinha afastando as crianças das brincadeiras, principalmente as de rua. Já que as crianças não ficavam mais nelas a se encontrar e brincar após as aulas por causa de vários fatores, principalmente a violência. Todas as atividades dos planos tiveram como objetivo proporcionar maior interação das crianças e família com as aulas, tornando esta mais significativa.  Por isso, afirma Veiga (2007, p.15), “que a luta da escola é para a descentralização em busca de sua autonomia e qualidade (...) sendo uma oportunidade ímpar de a comunidade definir em conjunto a escola que deseja construir”

Ao longo do primeiro módulo do programa a cada aula, foram sendo desenvolvidas as diferentes partes que integram o projeto, tornando-o um ao final do semestre. Cada momento ocorreu um diferente e grande aprendizado por parte de todos bolsistas, através de um elaborado planejamento desenvolvido pela orientadora. Todos os planos de aula foram desenvolvidos e aplicados de forma remota, o que não diminuiu o empenho e dedicação na vivência. Com isso, nota-se a necessidade de que a metodologia integre os elementos que fazem parte da mediação, uma das três dimensões do plano (realidade, finalidades e mediação). Juntamente com recursos, conteúdos, tempo, etc., a metodologia funciona como meio. Então o termo mediação, para ajudar na realização das finalidades, resolvendo assim necessidades vistas na análise da realidade, esperando contribuir na construção do conhecimento das crianças da escola por meio da brincadeira. Deste modo como nas palavras de (BRANDÃO, 1981, p.10-11):

Um dos pressupostos do método é a ideia de que ninguém educa ninguém e ninguém se educa sozinho. A educação, que deve ser um ato coletivo, solidário —um ato de amor, dá pra pensar sem susto —, não pode ser imposta. Porque educar é uma tarefa de trocas entre pessoas e, se não pode ser nunca feita por um sujeito isolado (até a autoeducação é um diálogo à distância), não pode ser também o resultado do despejo de quem supõe que possui todo o saber, sobre aquele que, do outro lado, foi obrigado a pensar que não possui nenhum. “Não há educadores puros”, pensou Paulo Freire. “Nem educandos.” De um lado e do outro do trabalho em que se ensina-e-aprende, há sempre educadores-educandos e educandos- educadores. De lado a lado se ensina. De lado a lado se aprende. (BRANDÃO, 1981, p.10-11).

Daí surge a necessidade do trabalho docente através de projetos, que se mostra um método extremamente positivo no qual possibilita a ligação do projeto com diferentes áreas do conhecimento, ocorrendo de forma contextualizada a aprendizagem infantil. O educando com as relações que o cercam, assimila a natureza a sua forma. Entretanto, conforme ele cresce e vai ao encontro a fenômenos, situações e objetos novos, ocorrem importantes mudanças na sua visão do mundo. Tal processo de desconstruir velhos conceitos e construir novos, refazendo as ideias, mudando o pensamento, é, de fato, o conhecimento, é o exercício de aprender.

Na etapa da Educação Infantil, a avaliação tem um olhar universal da criança, é buscar, observando os avanços e os obstáculos a serem superados de cada criança, dando relevância ao seu conhecimento prévio, é uma ação contínua e diária que se volta no planejamento do educador e soma a rotina escolar. Vale ressaltar que nessa etapa do conhecimento é elaborado em movimentos de idas e vindas cabendo ao educador mediar e promover as intervenções pedagógicas necessárias para que as habilidades e competências das crianças sejam construídas e desenvolvidas.

Tais pressupostos referentes à avaliação são apresentados pelas Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Infantil (BRASIL, 2009, p. 16):

A avaliação é um instrumento de reflexão sobre a prática pedagógica na busca de melhores caminhos para orientar as aprendizagens das crianças. Ela deve incidir sobre todo o contexto de aprendizagem: as atividades propostas e o modo como foram realizadas, as instruções e os apoios oferecidos às crianças individualmente e ao coletivo de crianças, os agrupamentos que as crianças formaram, o material oferecido e o espaço e o tempo garantidos para a realização das atividades.

Após, seguir essas considerações, a avaliação ocorreu de forma, a fim de observar, registrar, conduzir e participar no processo de construção do conhecimento da criança, olhando as avaliações das crianças como um grupo e individualmente.

Por fim, o desenvolvimento do projeto se deu melhor que o esperado, dadas as circunstâncias atuais, provando que a construção do conhecimento pode ocorrer de diferentes formas e locais. Durante o período do primeiro módulo, muito do que foi visto na graduação e nas disciplinas do semestre se aplicou, mesmo que não totalmente nas práticas pedagógicas no campo em que iríamos realizar a intervenção, mas o que pode ser desenvolvido e executado do projeto aconteceram de forma excepcional.

Sendo de grande merecimento para o desenvolvimento e aperfeiçoamento das práticas docentes da bolsista, inserindo-a numa realidade acadêmica nunca antes vista, que lhe propiciou reflexões que não ainda haviam sido apresentadas, da mesma forma que as práticas que foram realizadas, sendo cruciais para seu caminho como educadora. O sentimento de trabalho inacabado por não ter sido exatamente como se esperava, feito e aprendido como em teoria se imaginava, não acabou sendo maior que o sentimento de satisfação no presente aprendizado.

Mesmo longe da sala, a turma de educação infantil do Pré II B permaneceu unida, participativa e cooperativa, mesmo acerca de algo tão novo como foram as aulas em forma síncrona, algo que foi fundamental para o andamento e desdobramentos que fizeram desde semestre produtivo, com a ajuda da orientadora foi possível realizar o presente módulo, podendo-se afirmar que todos projetos trouxeram inovações, excelentes materiais, e diferentes conteúdos que ajudaram os demais sendo eles ou não do mesmo tema, tornando essa experiência não exclusiva de cada uma, mas coletiva.

O primeiro módulo do programa Residência Pedagógica foi, então, uma experiência única e principalmente de aprendizado e desafios, chegando ao fim e provando que com esforço e dedicação de todas as partes o trabalho foi possível, assim como o objetivo de contato e inserção na educação infantil em uma escola, que aconteceu, e de que tudo que foi aprendido será usado e levado para os demais módulos do programa.

REFERÊNCIAS

BARBOSA, Maria Carmen Silveira. Por Amor e Por Força: Rotinas na Educação Infantil. Porto Alegre: Artmed, 2009.

Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Educação é a base. Brasília, MEC/CONSED/UNDIME,2017.

BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é Método Paulo Freire. 18ª ed. São Paulo, Brasiliense, 1981.

BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Básica. Revisão das Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Infantil. Parecer nº 20/2009. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 09 de dezembro de 2009, Seção 1, p. 14.

VEIGA, Ilma. Passos Alencastro (Org.). Quem sabe faz a hora de construir o projeto político-pedagógico. Campinas: Papirus, 2007.

WINNICOTT D. O brincar e a realidade. Imago, 1975. A criança e o seu mundo. 6ª edição, editora JC, Rio de Janeiro 1982.

 

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